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• • atualizado às 12h38
Brasil só crescerá com vigor no final de 2015, dizem economistas
Retração de 0,5% do PIB no terceiro trimestre reforça incertezas; para economistas, País só voltará a crescer com força em dois anos
Na última década, o Brasil viu sua imagem internacional emergir no cenário internacional, embalado pelos resultados positivos de sua economia. Mas o crescimento perdeu fôlego e a divulgação, nesta terça-feira pelo IBGE, de que o PIB teve retração de 0,5% no terceiro trimestre de 2013 - e expansão de 2,2% na comparação com o mesmo período no ano passado - reforça as incertezas. Mas quando o país voltará a crescer de forma vigorosa?
A BBC Brasil conversou com dois economistas, o ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, e o ex-diretor para Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartzman. Para eles, resultados mais vigorosos não devem vir em menos de dois anos. Em 2012, o Brasil cresceu apenas 0,9%, bem menos que os 7,5% de 2010, percentual que fez o país se tornar uma das vedetes do clube das potências emergentes. Para ambos economistas, a economia brasileira se viu limitada pela carência de sua própria infraestrutura. Portos, aeroportos, estradas e ferrovias sucateadas se tornaram os vilões do chamado "custo Brasil".
Investimento
Mas o fato de o Brasil ainda ser um país "em construção" pode ser a chave para a retomada do crescimento. "Estou convencido que um de nossos maiores problemas pode ser nossa melhor oportunidade para crescimento. Estamos tão atrasados que precisamos de investimentos gigantescos em infraestrutura", diz Ricupero. Ele defende que parte dessa missão deve ser confiada à iniciativa privada e ao capital estrangeiro.
A recente concessão de estradas e aeroportos pelo governo federal poderia marcar o início da retomada desse crescimento. "Em dois ou três anos, as concessões já serão sentidas. Só a melhoria da infraestrutura pode fazer crescer o PIB brasileiro em mais 1% ao ano", disse. Schwartzman faz uma previsão parecida e também defende que maiores investimentos em infraestrutura, "melhorando a logística e reduzindo perdas", a fim de dar um empurrão no PIB. "Dado o ritmo das concessões, efeitos, se houver, só deverão aparecer mais para o final de 2015 e começo de 2016", diz Schwartzman.
Um dia antes da divulgação dos resultados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em evento em São Paulo que o investimento deve ser o principal indutor da economia e que o país tem condições de crescer em torno de 4% ao ano na próxima década. "É preciso investir mais também em construção civil e em setores estratégicos da indústria e da agricultura", disse.
O grande desafio do País é justamente aumentar seu nível de investimento, que atualmente está abaixo de 22% do PIB, patamar considerado ideal para um crescimento sustentável da economia. Nos últimos anos, boa parte desse crescimento foi puxado pelo aumento do consumo, parte das políticas anticíclicas para conter a crise. Mas a recente rodada de estímulo às compras, como os incentivos fiscais à indústria automobilística, não geraram o mesmo resultado registrado em 2009. Pior que isso, acabaram pressionando a inflação, segundo a análise da maioria dos especialistas.
Privatizações
"O governo atual perdeu muito tempo para transferir alguns setores para a iniciativa privada devido a constrangimentos ideológicos", diz Ricupero, em referência à resistência histórica das bases do PT às privatizações. "Isso (as privatizações) vai começar a destravar a economia. A curto prazo é a grande única grande alavanca para acelerar o crescimento", diz Ricupero. Schwartzman chama atenção para a necessidade de reformas, como a tributária e a trabalhista, "mas, mesmo se ocorressem, o que está longe de ser óbvio, seus efeitos demorariam a se materializar", diz, ressaltando a necessidade de investimentos em infraestrutura.
Para engrenar, o Brasil também precisa aumentar a produtividade do trabalhador, diz Schwartzman. E para isso, é necessário melhorar os índices de educação. "Passa a ser fundamental, portanto, acelerar o crescimento do produto por trabalhador, cujo ritmo parece ser algo em torno de 1 a 1,5% ao ano", diz Schwartzman. Considerando que o aumento da população em idade ativa tem sido de cerca de 1% ao ano, segundo o economista, "o produto não pode se expandir de forma sustentável mais do que 2 a 2,5% ao ano", considerando a somatória da produtividade do trabalhador e a do crescimento populacional.
Ricupero diz que, além de investir na infraestrutura, o governo precisa equilibrar as contas públicas. Neste ano, a expectativa dos agentes econômicos é de que o governo não atinja a meta do superavit primário. "O governo precisa controlar mais os gastos. Precisa ser mais eficiente. E precisa fazer mais esforços em policiar as transferências sociais. Algumas merecem aplauso, como o Bolsa Família, que beneficia milhões de famílias e pesa pouco. Já outras são decorrentes de uma legislação extremamente generosa. Eu cito por exemplo o seguro-desemprego, que quase explodiu, apesar de vivermos um momento de quase pleno-emprego, o que é uma contradição", diz.
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